quarta-feira, abril 30, 2008

Pormenores II









Havia ao longe um barco de guerra: se calha, por isso, reparei na mão e outras minúcias.
Grácil sol de Inverno, aquele que preguiçosamente se conserva baixo e oblíquo e nos transmite o interior das coisas.
As estátuas sorriem e espreitam-se entre verdes, segurando saias de pedra como se ainda meninas.
O vento vira as costas ao rio e faz um gesto displicente: imagino ao seu esgar furioso que asneira dirá!

Não olho os artefactos de guerra senão para pensar na ameaça que representam.
Para tantas mãos com corpos vivos.

terça-feira, abril 29, 2008

Um pormenor








Tema da foto da semana no PPP.
Que poucas vezes no momento da palavra surge a imagem, rápida!
Aqui, a mão-pedra-doente, ainda agarrada a uma taça vazia.
De onde vem? era preciso perguntar. Eterna ficará, com uma lágrima negra.
Foi esse o meu pormenor, visto algures entre o cão atento e as grades.
As folhas? Essas renovar-se-ão em todas as estações.
E a propósito, surge-me uma cadência:

"A mão afaga, atende, segura, desprende
A mão flutua, a mão afunda
A mão acontece, desaparece

A mão, sem poema ou ou pretensão
a mão estende-se e
encontra-se.
Ou não!"

sexta-feira, abril 25, 2008

1974 Abril Sempre


No dia 25 desse mês, hesitantes ainda, descobríamos a nossa nacionalidade, a inteira, a interior.

A do mundo do qual fôramos afastados em décadas obscuras.

Oferecêmo-la assim, vermelha e quente como um coração, aos que vieram a seguir.

A Alegria e a Liberdade.

quarta-feira, abril 23, 2008

Do Livro


E dos livros. De todos, desde a infância.
Mesmo os fascículos cor de rosa que guardava entre colchões, escondida da incompreensão dos adultos.
Do convívio desses amigos de sempre, diferentes e verdadeiros.
Os livros da minha vida? Todos! Em todos me perdi e em muitos me encontrei.
...
"Sentia uma atracção especial pelos primórdios que me lançavam num empenho permanente para libertar a minha personalidade e projectá-la num meio novo, a fim de alimentar a minha curiosidade de ver a sua sombra nua. O eu invisível aparecia-me mais nitidamente reflectido na água parada da mente ainda desinteressada de outra pessoa. Os juízos atentos, que continham elementos do passado e do futuro, nada valiam em comparação com a reveladora primeira impressão, o instintivo abrir e fechar de uma pessoa ao conhecer um estranho.".

T.E.Lawrence "Os Sete Pilares da Sabedoria"
("Os sete pilares da sabedoria foram mencionados pela primeira vez na Bíblia, no Livro dos Provérbios IX, I: - A sabedoria construiu uma casa: ergueu-a com sete pilares.").

segunda-feira, abril 21, 2008

Ilha - A despedida










Esquecendo atropelos, tempos de mau tempo, frustrações.

Na terra que é nossa deixamos mais dinheiro que o turismo que vêm com "pacotes económicos" à procura de mesuras atlânticas.

Despedir na mansidão dos bichos e lugares.

Ah... as ilhas-pedra femininas que me parecem vidas de outras vidas conhecidas!

Ilha - Ruas e árvores nelas














O primeiro olhar de chegada à cidade, foi para as árvores em chama cor de fogo e laranja (as flores rindo-se sabendo-se sempre inocentes!), de amigável balançar.

Os jacarandás que persigo em Lisboa, ali já plenos dos seus sinais azul-lilás, uma festa minha antecipada.

Ruas e pedras; a lava leve, escura e densa.

Ilha - Mercado dos Lavradores II









E a deambular na exposição das cores, esqueci museus.

Mais uma vez, as flores abertas como mãos.

Ilha - Mercado dos Lavradores I










Os espaços da comunicação.
Os peixes, as frutas, as gentes no seu linguajar antigo.

(Lembro o Mercado do Bolhão antes dos reis do plástico, da dinamização e das "beijocas" nas vendedeiras.
Sobreviverá às opiniões dos predadores que desumanizam a cidade e explusam as eco-pessoas?)

Por mais que discorde das javardices do poder, será que houve inteligência em manter estes nichos de mercado, onde a naturalidade se oferece a quem a estima?